Presença da cultura afro-brasileira em Santa Maria de Jetibá

Conhecida como “A Cidade Mais Pomerana do Brasil”, Santa Maria de Jetibá abriga em seu território uma  gama variada de etnias e suas respectivas culturas. São os italianos, os hunsrik, os holandeses, os afrodescendentes e os migrantes de diversas regiões brasileiras. Por isso, andar pelas ruas da sede do município é, a cada dia que passa, estar em um espaço multiétnico e de notável diversidade cultural.

No romance Canaã, escrito por Graça Aranha em 1902, o personagem Milkau vaticinava essa posteridade que ainda estava distante no tempo, mas ele a pressentia e a prometia à sofredora Maria Perutz:

“– É a felicidade que te prometo. Ela é da Terra, e havemos de achá-la… Quando vier a luz, encontraremos outros homens, outro mundo, e aí… É a felicidade… Vem, vem… “.

A cada geração, o/a escritor/a da atualidade dá continuação ao que escrevia o/a escritor/a que já foi levado pelo tempo e começa a ser roído pelo esquecimento. Na senda de Graça Aranha, seguindo-lhe os passos, mais de um século depois, Rosemaire Silva de Souza, escreve mais um trecho dessa Canaã atemporal. Ela se faz, por meio da escrita, portadora dos créditos do passado e vem nos apresentar a contribuição cultural de Jair Honorato da Silva, o antológico Seu Jajá, pai de Rosemaire.

Nas letras de Rosemaire Silva de Souza, tetraneta dos afrodescendentes da época da escrita de Canaã, vem a nossa “Escrevivência”, termo criado pela Professora Doutora Conceição Evaristo, e que quer dizer “escrita que nasce do cotidiano, das lembranças, da experiência de vida do próprio autor”.

seu jajá

Seu Jajá e a lendária Mulinha

                                       SAUDADES DE UM FOLIÃO

Todos os anos quando surge o carnaval vem a lembrança de uma figura muito importante: o saudoso carnavalesco Jajá. Pai maravilhoso, exemplar, cidadão santa-mariense e orgulhoso desse mérito.
Durante muitos anos o “Bloco do Jajá” com seus bichinhos: mulinha, boi e urso arrastaram centenas de pessoas pela principal Avenida de Santa Maria de Jetibá, rumo ao centro. Era o carnaval de todas as idades, de todas as etnias que se mesclavam num só ritmo, o da alegria. A criançada se divertia puxando o rabo da mulinha enquanto o velho Jajá rodopiava em sua montaria dando galopes atrás da molecada que saía em disparada embrenhando-se embaixo das cercas de arame farpado que margeavam as estreitas ruas da nossa cidade. Tudo era diversão, carnaval marcado por um tempo no qual as pessoas se deslocavam do interior para ver e participar da passagem do “Bloco do Jajá”, nas tardes de domingo e de terça-feira.
O encanto por esse folclore virou um ritual santa-mariense por muitos anos. Tudo era confeccionado pelo próprio idealizador. Jajá, na sua simplicidade, apropriava-se de uma habilidade artesanal tão autêntica que impressionava pela riqueza de detalhes utilizados para  confeccionar seus bichinhos. Grande parte dos materiais era reciclada, outros eram patrocinados pelos comerciantes locais.
Muitos de vocês que estão lendo esse texto participaram pelo menos um pouquinho dessa folia. Se não, pergunte os seus pais; com certeza afirmarão que fizeram parte do inesquecível carnaval de rua com o Jajá.
Em 1994, Jajá nos deixou aos 73 anos… com certeza foi alegrar o Céu, pois isso ele sabia fazer muito bem a todos que dele se aproximassem.
Numa época de tanta alegria, rendo a minha homenagem a esse folião nota 1000.
Saudades eternas do meu pai querido!

Texto e Foto: Rosemaire Silva de Souza – Filha do Sr. Jajá.

Referências:

EVARISTO, Conceição. Gênero e etnia: uma escre (vivência) de dupla face. Mulheres no mundo: etnia, marginalidade e diáspora. João Pessoa: Ideia, p. 202, 2005

GRAÇA ARANHA, José Pereira da. Canaã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

Texto originalmente publicado em: https://www.facebook.com/pg/smj.es/posts/?ref=page_internal

 

Sobre antoniopneto

Professor de Língua Portuguesa, contista e cronista.
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